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Esporte à Meia Noite comemora um ano com torneio

publicado:  15/06/2000 19h07, última modificação:  01/03/2016 20h24

Brasília, 15/06/2000 - O projeto Esporte à Meia Noite comemora um ano de atividades com o I Torneio Internúcleos pela Paz, que acontece nesta sexta-feira, dia 16 de junho, no Caic Anísio Teixeira (Ceilândia Norte), a partir das 21 horas. Mais do que a disputa de futebol de salão, tênis de mesa e dominó, o objetivo do evento é promover a troca de experiências entre os cerca de 330 jovens de Planaltina e Ceilândia, que até a criação do projeto participavam de gangues que disputavam o território em função do tráfico de drogas. Adaldei Filha, coordenadora geral do Esporte à Meia Noite, que é ligado ao Programa Paz nas Escolas, do Avança Brasil, explica que a idéia é levar a paz àqueles que antes só conheciam a violência.

“Os meninos dos dois núcleos de Planaltina vão passar sua experiência para os de Ceilândia, que começaram a trabalhar em fevereiro deste ano. Na verdade a gente não quer incutir neles esse sentimento de competição, mas levar-lhes um modelo que deu certo, através do depoimento vivo dos adolescentes que estão participando do projeto desde o ano passado, diz Adaldei.

Dados da Secretaria de Segurança do Distrito Federal indicam que em Planaltina onde há os núcleos de Vila Buritis e do Jardim Roriz, houve uma redução de 20% nos crimes gerais; de 47% nos crimes de lesão corporal; e diminuição dos furtos e roubos. Setenta e cinco participantes do projeto já foram capacitados em cursos profissionalizantes de informática, massagem, auxiliar administrativo, instalador de tevê a cabo, entre outros.

“Estamos sempre oferecendo a possibilidade do adolescente ser capacitado durante o dia, fora do horário escolar. Promovemos sua interação na comunidade e fora dela, em eventos comuns, para mostrar-lhes que é possível conviver pacificamente, e que eles não estão isolados na comunidade a qual pertencem, estão tendo oportunidade de abrir seus horizontes, explica a coordenadora do Esporte à Meia Noite.

Reestruturação da família – São 330 a 340 adolescentes participando do projeto, que funciona das 23 horas às 2 da manhã. Por volta das 22h30min um ônibus de cada núcleo atravessa uma rota que cobre o maior número de escolas daquele setor. O adolescente pega o ônibus, que o leva ao local aonde fica o núcleo. Lá ele é recebido por uma equipe de monitores formada por bombeiros militares com qualificação em educação física, e por professores de educação física da Fundação Educacional. Além das atividades esportivas comuns, como futebol de salão, vôlei, basquete, tênis de mesa, dominó e dama, os jovens são atendidos por psicólogos e assistentes sociais. Caso seja identificado um problema mais sensível, o profissional agendará um atendimento durante o dia, nos Centros de Desenvolvimento Social da Secretaria de Ação Social do Distrito Federal.

“Lá também é feito o cadastramento para cursos, empregos, e para outros programas assistenciais oferecidos pelo governo federal. Muitos levam problemas de casa, como desemprego do pai e da mãe, e a gente faz o possível para ajudar nesse ponto também. É uma tentativa de se reestruturar a família do adolescente, para que ele tenha uma base mais sólida e possa iniciar as mudanças que as outras atividades do projeto tentam promover nele. E nós acreditamos que o esporte é um elemento modificador, diz Adaldei Filha.

Cada núcleo tem sua equipe de policiais que, segundo a coordenadora do Esporte à Meia Noite, foram trabalhados para sua função nova, onde o adolescente passa ser um parceiro e não mais um alvo. “O policial não deve estar lá para vigiar o adolescente, com medo dele cometer uma infração, mas vigiar para que nada lhe aconteça. Isso promove uma interação maior entre o policial e o adolescente, porque antes havia uma prevenção dos dois lados. O projeto é muito dinâmico, então procuramos sempre oferecer alguma coisa a mais, como palestras sobre saúde, direitos humanos, sobre o Estatuto da Criança, para que o adolescente queira permanecer conosco.

Alguns estados estão tentando implantar projetos semelhantes, como o Rio de Janeiro, através do movimento Viva Rio; Minas Gerais, através da Secretaria de Esportes de Belo Horizonte; São Paulo; Bahia, através do Projeto Axé, que vai trabalhar com a capoeira; Ceará, na região de Calcaia. O Esporte à Meia Noite foi também selecionado para integrar o Plano de Segurança do Entorno, promovido pelos governos do Distrito Federal e de Goiás, com apoio do governo federal, através do Programa Paz nas Escolas.

“Se você der outro tipo de perspectiva para a vida do adolescente ele responde deixando as ruas e a violência. Com certeza não vai acabar numa Febem (Fundação Estadual do Bem Estar do Menor) ou num Caje (Centro de Atendimento Juvenil Especializado). Ninguém mais agüenta essa política arcaica de pegar o menor infrator e trancafiá-lo sem dar-lhe uma condição melhor. A gente deve trabalhar preventivamente, porque o adolescente que não chega a uma Febem não vai chegar a um presídio ou à vida adulta como criminoso, acredita Adaldei Filha.

O I Torneio Internúcleos também vai comemorar uma parceria do Esporte à Meia Noite com a Petrobras, que começará com a capacitação dos profissionais envolvidos no projeto, daqui a 15 dias, na Unipaz. São cerca de 60 pessoas, entre policiais militares, policiais civis, bombeiros, psicólogos, assistentes sociais, serventes e motoristas.

“Trata-se de uma equipe bem heterogênea, e é preciso que todo mundo possa entender como o outro funciona. Todo mundo deve ter a mesma visão do que o projeto está oferecendo para o adolescente, saber como enxergá-lo. Além da capacitação profissional, os recursos vão possibilitar a compra de equipamentos. Na verdade, o modelo do projeto é muito simples mas exige um preparo. É preciso trabalhar as pessoas para mudarem sua visão, do policial ao professor e ao bombeiro, porque eles trabalham com um público muito diferenciado. A gente não pode tratar o adolescente com preconceito, mas também não pode esquecer que ele é um jovem infrator, precisa de uma certa disciplina, uma certa autoridade, diz a coordenadora do Esporte à Meia Noite.