Brasília, 19/08/2002 - Em 1999, o município de Abaetetuba - um dos menores em extensão do Estado do Pará, com 1090 km2 totalizando 14 bairros na área urbana e 70 ilhas e estradas na área rural - era conhecido como a "Medelín do Brasil" pela atuação do narcotráfico e pela exploração do trabalho infantil. A mídia nacional e internacional denunciava dezenas de casos de crianças e adolescentes mutilados, no degradante trabalho nas olarias onde produziam tijolos. A vergonhosa realidade começou a mudar há três anos, com o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - Peti, do Governo Federal.

O Peti de Abaetetuba, conhecido entre os ilhéus como Projeto Maré Lançante, está ajudando o tempo a cicatrizar feridas, que deixaram marcas para sempre, como a da menina moradora na ilha do Rio Urubuéua, que perdeu os dois braços na maromba - instrumento utilizado no trabalho em olarias.

O programa beneficia atualmente 2.019 crianças - 1.800 nas ilhas onde moram. São hoje 947 famílias vivendo uma nova mentalidade: os adultos no trabalho e as crianças na escola. A bolsa Criança-Cidadã é distribuída em 32 pólos, a maioria na área rural: 30 pólos na região das ilhas, um na região da estrada e um em área urbana - este em parceria com o Banco do Brasil, funcionando na sede local da AABB.

De acordo com a Secretária Municipal de Assistência Social, Francineti Maria Rodrigues Carvalho, o trabalho precoce ainda não foi totalmente erradicado, o que mantêm constantemente empenhados a gestão municipal, educadores, familiares e comunidade.

"Temos ainda um longo caminho a percorrer. Queremos transformar nosso município num lugar onde os adultos sejam do bem; o trabalho de crianças e adolescentes seja a escola, e criança esteja na rua só para brincar de peteca, pipa e pião", diz a secretária que é também Mestra em Psicologia.

NOVO DESTINO - O público-alvo do Peti em Abaetetuba é originário do trabalho em olarias, mas existem também no Programa crianças de famílias de lavradores e pescadores, que se envolviam com estas atividades; na cidade, crianças que trabalhavam em lixões e em locais de assédio de traficantes, como os estacionamentos de bicicletas - principal meio de transporte do município.

Outra forma de trabalho infantil que apresentava relativa incidência era a de apanhador de açaí - os peconheiros, como são chamados os que trabalham neste tipo de colheita.

Com a chegada do Peti, os menores assistidos trocaram seu destino. Eles substituíram os riscos de acidentes no trabalho familiar e a busca por sobrevivência nas ruas sob a ameaça dos aliciadores, pelo acesso à escola e ao prazer lúdico das Jornadas Ampliadas.

"O projeto é uma maravilhosa mudança de vida", diz a Secretária falando em nome de crianças, pais e educadores.

O Peti, hoje, é disputado no município. Tanto, que novos casos de trabalho infantil registrados acabam ocorrendo por pressão de pais, que querem a abertura de mais vagas do Programa para seus filhos.

Segundo Francineti, que coordena 89 educadores em Abaetetuba, enquanto os adultos aprovam o Programa, a meninada que participa do Peti está se superando dentro e fora das salas de aula. Eles participam de campeonato de canoagem, oficinas de fantasia e adereços feitos de sucata. Fazem teatro, dança e música. Já participaram até da produção musical de um CD, com o tema "Direito de Ser Criança".

AVANÇA BRASIL - O Peti está implantado em todo o Brasil. Conforme dados atualizados em agosto, 796.609 crianças foram até agora retiradas do trabalho infantil, sendo 499.063 da área rural e 297.546 da área urbana. Do total de menores beneficiados, 483.037 crianças são do Projeto Alvorada. O Peti está organizado e atuante em 2.532 municípios, sendo 1.269 municípios pelo Projeto Alvorada.

O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, desenvolvido pela Secretaria Nacional de Assistência Social, é uma das ações prioritárias do Plano Avança Brasil, coordenado pelo Ministério do Planejamento.

"O Peti mudou nossas histórias
Ficará em nossas memórias,
Deu- nos esperança.
Ele veio devolver
O nosso direito de ser criança
e o direito de sonhar..."
(trecho da música do Bloco Pólo Furo Grande -
I Baile Carnavalesco do PETI em Abaetetuba, Pará)