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Entrevista da ministra Miriam Belchior ao Jornal Zero Hora

publicado:  23/05/2011 12h55, última modificação:  27/05/2015 19h34

Meta de cortes será atingida, diz ministra
Miriam Belchior diz que economia terá ritmo reduzido, mas sem abdicar do crescimento.

A gente está pagando o preço do sucesso
Miriam Belchior, ministra do Planejamento

Parece até contradição. Se não são poucos os bilhões que passam por sua mesa na Esplanada dos Ministérios, como o orçamento do PAC superior a R$ 40 bilhões neste ano e o programa Minha Casa, Minha Vida, a paulista de Santo André tem também o desafio de gerir os gastos do Executivo sem prejudicar o crescimento do país e estimular o desenvolvimento sustentado.

Tarefas à primeira vista divergentes, Miriam Belchior, ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão, tem a missão não só de controlar o corte de verbas estimado em R$ 50 bilhões neste ano como o de não permitir que os investimentos sociais sejam prejudicados e, o desempenho da economia, brecado.

Adepta do fazer mais com menos, a engenheira de alimentos, um dos nomes fortes do governo Dilma, estará hoje e amanhã no Estado para doar área da extinta RFFSA no bairro Humaitá, na Capital, para regularização fundiária e construção de novas unidades habitacionais, vistoriar obras do trensurb e de saneamento e da plenária do plano plurianual em Canoas.

Viúva do ex-prefeito Celso Daniel, assassinado há nove anos, e hoje casada com o economista Antonio Dória, mãe do jovem Carlos Alberto, Miriam é conhecida por sua obstinação com resultados, estilo parecido com o da presidente Dilma – e há quem brinque, inclusive, que ela é a “Dilma da Dilma. Com mestrado em Administração Pública e Governo pela Fundação Getulio Vargas, a ministra, 53 anos, anuncia nesta entrevista exclusiva a ZH que o país terá condições de crescer por volta de 5% neste ano e que, em breve, a inflação começará a dar sinais mais fortes de queda.

Ex-assessora do presidente Lula, governo em que coordenou a unificação dos projetos de transferência de renda que deram origem ao Bolsa-Família, afirma também que os gargalos dos aeroportos começarão a ser resolvidos este ano.

Zero Hora – Quando foi lançado, o programa de cortes de R$ 50 bilhões no Orçamento foi recebido com ceticismo. As verbas foram reduzidas, há razão para o receio?

Miriam Belchior – O resultado primário, o superávit, que esperávamos para quatro meses, foi alcançado em março. Em três meses, economizamos R$ 25,5 bilhões frente ao que estava programado para o quadrimestre. O dado de abril, que será publicado na próxima semana, confirmará a tendência. Também no primeiro trimestre, houve redução de 4,4% nas despesas em relação ao mesmo período de 2010. Esses dados demonstram que o compromisso de corte de R$ 50 bilhões vai ser alcançado.

ZH – Ou seja, o receio acabou diante da intenção de cortar mesmo? E existe alguma intenção de atingir também os investimentos sociais no programa?

Miriam – Sim, estamos cortando o que foi anunciado. Isso mostra o controle que o governo está fazendo nos gastos, com todos os ministérios unidos. Não existe perigo em relação aos investimentos sociais e os de infraestrutura que o país precisa, fundamentais para o crescimento sustentado. Os principais programas sociais estão mantidos. No PAC e no Minha Casa, Minha Vida, que teve 5% mais de recursos do que em 2010. O Congresso acabou de aprovar a segunda fase do Minha Casa, Minha Vida, que vai ser iniciada ainda no fim deste semestre.

ZH – Como compatibilizar o controle de gastos sem brecar o crescimento, que deve ser reduzido com as medidas de contenção ao crédito tomadas também para tentar reduzir a inflação? E, a propósito, o governo ainda conta com crescimento da economia de 5% neste ano?

Miriam – É isso que estamos fazendo. Reduzindo um pouco o ritmo da economia, mas mantendo o patamar de crescimento do país. Não vamos adotar as receitas usadas em outros tempos, quando o remédio matava o paciente. Antes, as medidas colocavam o país em recessão, provocando desemprego. Nós, não. Vamos manter o tripé da política econômica – política fiscal, regime de metas de inflação e câmbio flutuante –, mas estamos empenhados no combate à inflação, pois sabemos o quanto é danoso para a nossa economia, para a vida das famílias e para o investimento privado.

ZH – Outra questão que aflige é o câmbio. Há solução a caminho?

Miriam – O câmbio flutuante é uma das bases do nosso tripé. Mas estamos tomando medidas para que o dólar se recupere. Todas as avaliações mostram que, se não tivéssemos tomado as medidas como aumento de IOF e taxação de empréstimo de curto prazo, por exemplo, o dólar estaria em uma cotação mais baixa, de R$ 1,40.

ZH – É crescente o temor com o atraso nas obras ligadas à Copa do Mundo. Recentemente, a senhora falou que o país não passará vergonha na Copa. Será?

Miriam – Não houve contenção de verba, como não houve em relação ao PAC, fundamentais para o crescimento do país. Mas é muito natural a preocupação das pessoas com a Copa.

ZH – Um dos nós mais salientes é o gargalo dos aeroportos.

Miriam – A gente está pagando o preço do sucesso. O Brasil cresceu, gerou muito emprego e a renda das pessoas também aumentou. Nosso problema não é chegar na Copa, mas enfrentar o aumento de hoje da demanda por transporte aéreo. Estamos discutindo como será a lógica geral da concessão ao setor privado, da abertura capital da Infraero, como tratar o conjunto do setor aéreo.

ZH – Com o corte do Orçamento, concursos públicos foram suspensos. Há possibilidade de retomá-los neste ano?

Miriam – Nossa decisão é fazer ajuste nas contratações e suspender concursos que não estão sendo autorizados. As contratações previstas estão sendo revistas. Só será contratado o que for necessário mesmo neste ano e que não prejudique atividades como a ampliação das universidades e escolas técnicas. Foram liberados cargos para licenças ambientais. Com exceção dos que citei, os demais devem ser postergados para 2012.

ZH – Quando Porto Alegre terá uma resposta definitiva sobre o metrô, obra incluída no PAC da mobilidade grandes cidades?

Miriam – Estamos no meio do projeto de seleção do PAC da Mobilidade. Temos R$ 18 bilhões, mas recebemos propostas de R$ 30 bilhões. Porto Alegre entregou sua proposta do metrô, que está sendo analisada como as outras também. Pretendemos ter resultado em julho, mas acredito que as cidades com bons projetos sairão na frente. Como Porto Alegre está há bastante tempo trabalhando nisso, vamos ver se estará na lista em julho.

ZH – O governo não considera estranho o comportamento de uma pessoa que tenha multiplicado o patrimônio por 20 em apenas quatro anos? Como o governo está lidando com as denúncias contra o ministro Antonio Palocci? Ele irá ao Congresso prestar esclarecimentos?

Miriam – Acredito que o ministro Palocci já deu as informações necessárias. Ele tomou medidas antes de virar ministro da Casa Civil, informou à Comissão de Ética a existência da empresa de consultoria e pediu orientação sobre a melhor maneira de como lidar com isso. Foi orientado, tomou as medidas, apresentou todas as informações à Comissão como manda a lei. A legislação permite que os parlamentares tenham as suas empresas, negócios. Não vejo, a princípio, qualquer problema de ele ter exercido essas atividades, como outros parlamentares.

MARIA ISABEL HAMMES