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Programa Sentinela: Vigília sob sol e chuva

publicado:  27/11/2002 12h32, última modificação:  01/03/2016 20h24

Brasília, 27/11/2002 - Idealismo e desapego da rotina fazem parte do perfil de quem trabalha em todo o país, nos mais de 300 Centros de Referência do Programa Sentinela - nome usual do Programa de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, do Avança Brasil, coordenado pelo Ministério do Planejamento.

As equipes de psicólogas, pedagogas e assistentes sociais do Sentinela têm sempre histórias de luta e de superação para contar, extraídas do trabalho sistemático de assistência a menores vítimas de violência. Se no dia-a-dia das cidades os casos de crianças e adolescentes agredidos, abusados e explorados ficam encobertos por medo ou vergonha, fora das áreas urbanas há também muita dor e abandono.

Por isso, as jornadas pelo interior representam desafios ainda maiores. As técnicas do Sentinela vivem uma vida de peregrinas. Percorrem, em veículos próprios, lugares de difícil acesso, muitas vezes distantes dos municípios. Geralmente ao volante, enfrentam estradas de poeira ou lama, trilhadas sob sol e chuva, desbravadas como se fossem num desafio de rali. No percurso obstinado um objetivo único: chegar a encobertos destinos de crianças e jovens importunados por alguma forma de violência - da agressão psicológica à agressão física, onde seus algozes, geralmente são os próprios familiares.

Segundo Wanda Engel, titular da Secretaria de Estado de Assistência Social responsável pelo desenvolvimento do Programa Sentinela no país, até os dias de hoje o atendimento médio do programa em todos os recantos do Brasil chega a 32 mil pessoas, beneficiando crianças e suas famílias.

A Secretária enfatiza que ainda não existem estatísticas sobre a violência contra a infância - negligência, abuso psicológico, maus tratos, abuso e exploração sexual. Só nos últimos seis meses de 2001, quando o Sentinela foi implantado, foram registrados mais de 10 mil casos de violência em apenas 160 municípios - "essa é só a ponta de um iceberg", explica Wanda Engel, ao ponderar sobre a contribuição do Programa Sentinela para encorajar as denuncias e sobre a importância da conscientização da sociedade sobre o problema.

A experiência dos Centros de Referência no Paraná, mostra um pouco do empenho nacional em prol de uma conduta mais solidária da população. Eles estão em de mais de 30 municípios que formam a Associação de Municípios de Entre Rios - AMERIOS, no noroeste do estado.

São quatro municípios-pólo atuando: o Pólo de Umuarama, o Pólo de Cianorte, o Pólo de Iporã e o Pólo de Nova Olímpia. Cada um deles congrega grupos de municípios. Os atendimentos em todos eles somaram 350 entre junho de 2001 e fevereiro de 2002. As equipes praticamente vivem na estrada para realizar a cobertura dos diversos municípios envolvidos pelo Sentinela - em média uma visita por dia para cada comunidade.

O trabalho é desenvolvido de forma integrada com as secretarias de ação social e conselhos tutelares dos municípios. Das reuniões conjuntas saem os roteiros de visitas. As distâncias variam de 15 a 70 km até o encontro com os protagonistas dos casos registrados, geralmente encaminhados pelos Conselhos Tutelares. A maior incidência de abuso, do tipo exploração sexual, atinge meninas na faixa dos 7 aos 14 anos. Em meninos é maior a violência psicológica.

Conforme a coordenadora do Programa Sentinela em Umuarama, Lourdes Santos é impossível apagar o sofrimento causado aos menores. Mas os atendimentos têm apresentado resultados em termos de "curar feridas". Há o exemplo do garoto P.L.C., que atingido psicologicamente por ver a mãe apanhar do pai, já não andava. Carinho foi o remédio para sua doença emocional. A menina, S.B.S. abusada pelo pai, em sala de aula não levantava a cabeça. Hoje interage com colegas e professores.

Lourdes também observa que o componente da impunidade na realidade perversa do abuso do sexo praticado contra crianças e jovens aos poucos começa a ser modificado. No caso do menino F.S.M. de cinco anos de idade, abusado sexualmente pelo tio, o agressor foi preso.

Como Wanda Engel e todos os que trabalham no Sentinela, Lourdes Santos não desconhece que se trata de uma luta incessante, estimulada por uma só palavra de ordem: esperança. É este sentimento que enxergam no olhar da criança que recupera o brilho. É isto o que vêem no ato de coragem da mãe psicologicamente doente, que resolve denunciar erros próprios ou alheios. É esperança o que sentem as psicólogas, pedagogas e assistentes sociais do Sentinela nas crescentes respostas da sociedade que se mobiliza e de forma solidária também contribui para que vidas se recomponham.